20070429

é aí que a gente pensa se valeu.
é aí que a gente vê que valeu nada...
é aí que a gente vê que vale nada.
é aí que a gente pensa se sofreu, se doeu. A gente mede.



é aí que a gente leva a pancada
e é assim que a gente aguarda a nossa vez.
e é aí que a gente lembra Dele
chora pra Ele
grita pra Ele


é aí que a gente vê que morre.
lembra que morre.
lembra que morre.

só assim que a gente chora de verdade. bem amargo. bem doído.

é aí que a gente vê que não controla.

pão, chão, café, vinagre.
vida,
dia, noite,
dorme, acorda, todo dia.
então a gente leva um soco e olha pra vida.
um tapa na cara.
um soco.
surra.
aí a gente vê que não vale
e vê quanta coisa...
tanta coisa...
é aí que a gente corre.
medo.
se esconde
e abraça e chora e passa e volta.
pão, chão, café, vinagre.
vida,
dia, noite,
dorme, acorda, todo dia.
é aí que a gente morre.
bem aquei dentro da gente.




andreas/andréia.

20070427

moribunda

Aquela habilidade de cativar cognitiva, quase crônica com que alguns nascem pode ser adquirida no contato igual catapora. igualzinho! E aquele ímpeto de euforia frenético, quase lúdico com que alguns nascem pode ser adquirido no habitat do animal portador também. Até aquele sintoma insano do riso constante, quase pandêmico com que alguns nascem pode ser capturado num pote para ser utilizado quando convier. Creio que até o repertório do bem viver é algo a ser adaptado dentro do universo paralelo dos que sofrem da anomalia descrita.
Obviamente os nascidos portadores de todas as características dantes citadas ainda permanecem na conhecida fase de negação. Ainda que aquele probleminha da morte (que hodiernamente vai cercando os pobrezinhos) se manifeste, não há o que temer. Os sintomas são constantes, gradativos e tendem a piorar.
Penso que o contágio eufórico (ainda que tratemos das já citadas ladies) e a capacidade peculiar de sorrir são concedidos aos que sabem padecer do malefício da alegria constante - ainda que o sofrer pareça mais atraente.
Não que sofrimento não faça parte do perfil anômalo citado. É inerente a todos e não seria negado a estes. O fato é que os tais apenas ignoram a dor e modificam a problemática do sofrimento. As vezes gritam. Aliás, como gritam estes! A plenos pulmões como se voz fosse vento. E as mãos? No ar em movimentos circulares. Sobrancelhas ressaltadas (ora a esquerda, ora a esquerda – é. Só têm habilidade motora eficaz com a esquerda. Alguns até tem sucesso com a direita. São raros. Conheço um.)
Veja você, leitor amigo, interessado nas peripécias da ciência, quão gloriosa é a sintomática da sofreguidão... o pobre nem parece pobre dada a faceta da praga. Ri-se a todo tempo e faz rir quem perto estiver (como catapora, lembra?). “é coisa do cão”, diria a antiga geração. Classifico como doença pelo malefício da dificuldade de choro, dificuldade de manifestação da dor. É do que morrem. De não poder doer. De não poder chorar. É do que sofrem. É do que padecem. Uma pena. Tão alegres... cura penso não ter. talvez tratamento que amenize o opróbrio, mas cura cura mesmo, pra inventar. “é que a responsabilidade da abstinência quanto ao choro é relacional, é social”, dizem estes. É pra negar a doença... pobres.
A dificuldade no que concerne à manifestação do choro, dor, fraqueza e genéricos é por estes atribuída à responsabilidade com o próximo e à figura que lhes é imputada do “bom provedor” de sentimentos entorpecentes (daqueles que ludibriam mesmo... o tal êxtase de alegria e semelhantes).
Cientificamente, convenhamos.. Não há objeções quanto aos sintomas já que parecem benéficos à primeira vista. E o são! Porém apenas para os que não sofrem do mal e acabam por tirar proveito dos adoentados. O proveito que menciono é bem aquele que classificamos vulgarmente como “ombro amigo” utilizado em ocasiões de abalo emocional por assintomáticos ou pelos que realmente não sofrem do mal.
O “são” faz uso do “doente” e de suas habilidades auditivas para as mais variadas atividades confessionais em seus debilitados ouvidos; desde subjugar pessoas, confidenciar pecados dos mais sórdidos, solicitar aconselhamentos sem cerne até desabafos que apenas ao seu dono caberiam.
Atitude que compele a vítima a oprimir ainda mais sua capacidade de sofrer e chorar catalisado a penalidade máxima vulgo morte. A nobreza do mal é padecer sorrindo. A singeleza do sorriso sintomático que não poderemos jamais associar ao automático, diga-se de passagem. Ainda que por doença, o sorriso, o gargalho e tantas outras características são absolutamente reais. O que torna o padecer ainda mais veloz.
A abordagem do tema vem senão alertar o leitor no que diz respeito ao contágio (como citado acima é rápido e irrevogável) e à solidariedade com os que sofrem do mal descrito. Chamo de mal do bom. Porque ele é bom.

20070424

analogia (revisto e censurado)

bem quando me vejo só
é quando eu me vejo mais
e eu sei que há alguém pra me libertar.
enquanto eu me sinto só é quando eu me sinto mais
e eu sei
bem sei que existe alguém que pode ver bem mais
e quando eu me pego só é quando eu me entendo mais
eu sei
pode nascer alguém que vê em mim o meu melhor
e quando eu me encontro só é quando eu me encontro mais
eu sei
ao certo existe alguém que vai me encontrar...
e quando eu me sinto só é quando eu me grito mais
eu sei
bem certo
existe alguém que pode ser bem mais que eu
e quando se sentir bem só
é quando vai sentir-se mais e saberá que existe alguém que poderá o enxergar
e quando eu me sinto só
é quando eu me doo mais
e a dor amiga dá visão do que não puder ver
entendo que talvez seja melhor doer
bem quando eu me encontro em paz é quando eu nem me vejo mais
e penso: deve existir alguém que certamente pode mais que eu
e quando eu me sinto só é quando eu escrevo mais
e as palavras vem dizer que só com as palavras posso, e quero, e devo me sentir bem mais.
a dor que anda em mim passeia tanto
que zonzeia a paz que mora bem no canto esquerdo do meu peito
e sem motivo faz a dor maior ser bem menor
deve ser o tal alguém que aguardo tanto e vejo que nem sou tão só pois tenho a mim e o meu pensar
e posso ser bem mais que alguém que pode bem me encontrar
e quando eu me sentir tão só
ele será aquele a quem espero e quero e peço
"venha, tenho tanto a lhe mostrar...
senta aqui no canto acima, lado esquerdo, dentro do meu peito.
então te vejo bem aquele que ninguém consegue enxergar "
tomara Deus que veja a mim
quando eu me sinto só é quando me pergunto mais se vale ser assim tão simples
quando eu me sinto só é sempre
quando eu me sinto só? agora
quando me vejo só me vejo
quando me pego só é certo que me sinto mais
é certo que enxergo mais
o que não pude ver
cegada pela turva, calva, derradeira paz

20070422

adivinha

pequena fé minha
ante o nobre sonhar (esse seu)
seu tapete da frente
lá que escondes a vida
dantes vivida...
limpo meus pés pra entrar

digo como se não tivesse pulado a janela
escondida, quieta
ouvindo o tilintar dos sonhos
batendo uns nos outros
distintos, distantes

tão pequena a sorte minha
ante o seu "nobre" falar
seu controle dos verbos, auqeles situacionais
prediz todos meus versos
suplanta meus laços
prediz minhas ações

digo como se não tivesse saber sobre o logro que és
finjo que entro nos teus verbetes
tento enxergar tuas entranhas
finjo, finjo e sou logro também

inverossimilhança o que me fazes crer
dono dos verbos
dono dos versos
dono dos laços
lhe dgo: sou ladina

controla e prediz o que sai dos meus lábios
por acaso pensaste que talvez... talvez...
possa eu também predizer predições?
Pensaste já que talvez que eu prevejo teus atos e calhe a mim lograr teir logros?

Tenho os mesmo ardis
ainda que me falte o poder que tens
sobre todas situações
sei do seu logro
se do ardil
e os tenho também
em menor escala, é certo


tão pequena a astúcia minha
que penso “certamente ele compreenderá cada verbete nesse post”
e me esqueço que cada palavra sua é metrificada, melimetrada
seu poder situacional
seu poder.


e agora vejo teus andares sobre a testa, franzida
diante dos versos saídos
sem muito pensar
dos dedos inícuos
sujos
secos meus
que desenham
desenham você
ou o pedaço teu
que eu pedi pra entrar
e o que roubei também.

20070418

meu bel

mal me achaste
foste ouvir
bem meu bel
meu decibel
veio ver
o planetóide
onde vivo
um mausoléu


mal me viste
bem cuspistes
nos meus pés
pequenos pés
pro prosápia
de amantes
como fôsse
seu papel...


propalando meus segredos
espalhando todos medos
invertendo sofrimento
invertendo toda dor



já ouviste "privativo"?
não me invada o planetóide
tire o pé da minha mesa
e esqueça já meu bel!!


não te quero ver nem perto
não te quero ver nem longe
não ver-te, ter-te
não preciso nem responde

vá embora jogue fora
a memória do meu bel
não me ouça
não me acolha
esqueça agora o decibel

mal me viste
e invadiste
o planetóide
mausoléu
onde vivo
bem sozinha
larilando o decibel

bem aqui eu fico e presa
não aceito assim surpresa
quero só ficar pra sempre
com meu bel
então esqueça

20070416

acredito em tanta
tanto
tudo
e só,
sã,
só .
que seja meu o problema
que seja eu quem resolva
que seja eu quem me ouça
que não se ofereça quem não pode
que não me diga que pode
então que meu ouça eu
apenas eu me ouça
e me chore
me lamente
me ignore
que eu me apoie
me apoie em mim
e resolva a mim
e ame a mim
e que seja
so

só sempre.
que eu me chore
só eu chore a mim.

20070414

conselho

Mortifica o medo e sente muito
diga que sente
ainda que custe, diga
sempre custa...
corre. cai... é o que fazem
acredita!
absolutamente crédulo
céticos perdem ludibriações das mais preciosas

Faça doer.
ausência de dor é rotina
prefira que doa.
ou você pode viver todos os dias este mesmo dia...
é que dor é ferida
tempo
cicatriz
é lembrança
Permaneça
todos sempre vão...
então seja crédulo
caia
sinta.
tanta dor.

20070412

Minueto (revisto e censurado)

É bem como se fôssemos minueto e trio.
como se não temessemos coletivo, plural.
como se fôssemos
minuetássemos
em três por quatro
e em humor elevado e suspensos, todos nós.
e em rondó circular
como se coisas fossem mesmo apenas coisas e pessoas fossem pessoas
é como se simplificassemos
como se fôssemos bem aquele nó
e o sendo, permitissemos o desate.
como se controlassemos mesmo o desatar...
como se fossemos dodecafônicos
supersonicos
polifonicos
emitíssemos sons
nos fazendo entender os incomunicáveis de sentir e ser.
não somos.
harmonicamente distantes
semínimos
semifusos
difusos em terminologias
e nos vestimos ainda que esteja quente
nos vestimos de outros e por instantes os somos
e então somos vários e apenas um os finge a todos.
como se flutuassemos
mas não somos
tão mais fácil se minuetássemos...

<>




Sou pedaço de pluma na fresta de luz

Pequena dançando na sua janela

Me sopra com vento

Me deixa voar

Me deixa no sol

Me deixa escapar


Aquele pedaço de pluma no dedo

Bem na pontinha do seu anelar

Me sopra com vento

Me deixa voar

Me deixa no sol

Me deixa escapar

Me deixa fugir, me põe na janela

Lá fora na chuva

O medo me espera