20070527

tenta o quê;

às favas com o mentecapto que me inventou a porcaria da tentativa.
Vá enfiar-se no longe e enfie a tentativa no lá também.
A não ser que prefira ser mártir da causa
Caso queira avise que te enforco nas tuas próprias cordas de adestrar pobre.

Esse sentir insepulto só não morre por culpa tua
Infeliz
Me inventa a coisa de ‘tentar’
E é tentando que a gente se explode
Tenta, tenta e morre um pouco de quando em quando.
Obviamente tanta tentativa tem tanto teor de derrota que vira tédio.

Que espera alcança espera sempre alcança espera e alcança...
Espera o teu nariz!
Que ânça mané ânça.

Vai você e leva o alcança contigo.
Batidos os dois.
Perdi a diplomacia na última das tentativas logo ali no último quarteirão.


Meu peito é o que fere
Minha cara é a que quebra
Meu corpo é o que padece

Tentei e cá estou.
Tentando.
Tento tanta coisa que esqueço tantas outras.
Dá errado e o que dizem? “vai, leso. Continua tentando”.

Farta.
Farta. Não há mais por onde e não há mais em onde.
bater
esfolar
me auto esfolo todo dia nessa coisa de tentar e tentar.
cansada.
chega de tentar.
chega.
tenta você;
que agora eu toh tentando não tentar mais
essa coisa de tentar.
Vicia a gente né?

Pois bem
Tento todo dia esquecer que tenho amor
Tento lembrar tudo de débito tudo de crédito
Tento perder todo o medo
Tento ficar acordada.
Tento e só tento mesmo porque aquela coisa do ‘consegue’ ta longe, amigo.
É.
Lhe digo.
Ta longe.
Ta vendo? Tenta.

20070522

a mim. aos vinte.

Enquanto os pés semi-tocam sonho
Enquanto as mãos semi-sentem nuvem
Tempo é quem não me espera.
Agouro de mim pra mim.
E quase que te enxergo dentro
E quase que te sinto dentro
E semi-posso entrar.

Semi porque não toco sonho
Semi porque não sinto nuvem
Quase porque tento tanto...
E o que era logro
É hoje jogo (que sempre perco)
E o que era escambo
É hoje assalto (que sempre sofro)

Plenos pulmões grito – espera!
E desde 80 quando mal comecei, esse tempo descortês só me apetece
E me tira o pouco que a custo juntei pedaço por pedaço
E as peripécias da velhice me roubam cada estilhaço de ignorância que guardava pra perder por hoje, mas aos 15 já não a tinha mais...
E agonizo nos verbetes
Perversos que me enganam
Fingem pra mim que sou livre por escrever,
Que sou forte por agüentar.
Falsa farsa
Fel enganador
Que tomo aos goles todo dia pra acordar e ver longe o tal sonho
Nuvem
Amor
Ah e este último merece a linha inteira
Até essa aqui também.
E essa. esmorece a paciência da mais alta divindade

A gente aguarda, ouve, chora e doa.
Aí é promovido. Vira amigo.
Inferno.
Amigo o raio que o parta.
E a porcaria do tempo escoa.
Duas dezenas.
Duas décadas.
Espero feito areia
Aquela inerte esperando o sal da água verde do oceano lhe gracejar a vida

E o desatino de molhar o amor pra ver crescer é que me corto e ponho sal pra arder.
Talvez eu seja areia ferida e o mar salgado bule comigo
E me escapa o ar lamurioso, bem grito mesmo.
Sal na ferida.

Tempo é quem não me espera
E achava ruim. Mesmo. Aí vomito o pior.
Tempo é quem vai apagar cada firula que te fiz,
E cada acréscimo que te dei
E cada verso que te escrevo
E cada “eu” que te doei.

Aí não toco sonho nenhum
E a merda da nuvem
A queda não me amortece.
O olho é que se enternece
Vendo o que me fiz até aqui.
Vendo o que fiz. o que. que. nada.
Aí digo “semi-toco sonho”
Pra fingir que “semi” me faz perto de tocá-lo.

20070520

às escondidas

então entra.
pode entrar.
entra, mas aqui no fundo.
entra na porta de trás.
não quero que nos vejam.

entra, eu disse!
pode entrar!
entra e fecha logo a porta.
fale baixo. sabe sussurrar?
melhor. não fale.
nem fale.
não quero que nos ouçam.


melhor! MELHOR!
me escreva!
isso!
conte-me tudo!
conte-me mais!
somos amigos, não?
sejamos amigos!
mas, aqui no fundo.
aqui no fundo

aliás, nem precisa vir.
me escreva.


se quiser...
pode vir.
venha.
fique um pouco.
avise e te espero.
aqui atrás.
venha na noite.
não quero que nos notem.
mas venha.
entra, senta.
espera, fica.
fica um pouco.
um pouco.
um
pouco.
só.

20070513

Moribunda - depoimento

Depois de "mal bom", sucesso laboratorial, hei de alertar o leitor amigo a respeito da enfermidade oxidante que despluma, despolpa, desnuda, destudo.
este entretanto, tomo como estudo de caso em depoimento particular.
acompanhe:

- até parece que o copéde por quem tomei amor não é quimera sibilante de momento...
sei que é. é que esqueço...
é fábula, historieta.
o duro é que é gangrena tal qual fosse real.
queria que fosse.
sabe-se que na inocação (repare no nome de doença. típico) deve haver o mancebo que provoque os primeiros sinais do padecer.
vem afinidade em intelecto.
música, livro, som. aí então é movediço.
as mariposas dançam acima da bexiga ou nela mesmo.
os olhos tomam forma inflamável. corpo vira ar e a vida que antes era boa fica vazia e depois boa de novo.
e a quem atribui-se o novo preenchimento? mancebo.
até aí é comedido e classificado "amizade boa", "quase irmandade".
então não há melhor momento que aquele em que se observa, ouve, absorve as palavras saídas do meliante (e derivados) e o incontido impulso de ouvi-lo, observa-lo e privilegia-lo com o que eu tenho de melhor.
compartilhar o que eu guardaria apenas pro meu próprio deleite.
alcançada tal edema, não há retorno.
o lúgubre do mal se deu.
lamente ter alimentado a quimera e te-la feito crescer.
é tarde.
e que fique claro: se fosse recíproco ainda, nem mal seria...
mas é efêmero, nocivo, insópito.
problema é vê-lo eterno e inócuo.
não é.
se deve haver qualidade a ser citada é o altruísmo que embala o caminho do matadouro.
enamourou-se então....?
sinto muito e alerto. ele é melindroso.
engoda a alma.
engoda até engodo.
e hoje, além de mal bom, adquiro também o que chamamos de "quimera do outro".
o que se desenvolve no conviver, cuidar, querer e escutar.
a casualidade não mais satisfaz e a gente quer hora e lugar.
diagnosticar é simples.
é recíproco? ora! realmente encontraste, meu jovem, seu outro você perdido nos perdizes.
agora, se as mariposas só tem pista de dança na SUA bexiga, lhe digo boquejando: já prescrevo terapia.
a catástrofe é ser imperceptível a princípio, inevitável em seu desenrolar e no fim, irreversível.
é como dizem... pra morrer, basta estar, estar... hun. estar... enamorado por mancebo perdiz.
lamento.
morrer de mal bom é honradez.
morrer de quimera é definhar até não haver mais água a expelir pelos olhos.
e a antífrase de tudo é que eu realmente não voltaria. alimento quimera gorda feito angorá.
como diziam sábios bibliofônicos, "não se turbe o vosso coração".
antídoto existe.
tornar recíproco
tornar câmbio
tornar permuta.
então vem a cura e a "quimera do outro" vira "ombro pra sempre".
e o mancebo passa a ser o perdiz perdido. passa a ser seu outro você que te tem e pronto.
um pouco de repouso e logo vem a alta definitiva.
caso contrário,
morte é certa.
ah, dualidade maniqueísta...
alta/funeral
bem. consulte seu médico periodicamente
faça exame preventivo de quando em quando
nunca se sabe.
eu? pereço feliz até que o faça tomar amor em mim.
de outra feita, meu lamento é mesmo por quem não padece.
até hoje lembram dos judeus, não lembram?
pois bem.
padeço então não para que me recordem como ao holocausto mas para que desfrute de cada pedaço de entremente de vida.
ainda que seja doença, mentira, biltre, blefe.
antes definhar de experimento que morrer de tédio.
e tenho dito.
espero que me tome amor.


explanada sintomática por completo, fica o alerta. prevenir? ah, não vale. exponha-se. depois damos jeito.

20070512

vide

haja vista o tamanho da empreitada atrás do perdiz que, coitado, corre feito perdiz atrás de outro desses perdizes perdidos, o tal perecedouro de amor até parece e se torna mesmo tenaz. acaba por parecer mesmo.
e a peregrinação rumo ao desconhecido do outro (de quem tanto falo) perduraria toda vida não fossem esses lapsos scatterbrainianos que me sobrevem volta e meia.
a gente vai cultivando essa larva filha da mãe até a ladina tomar conta de vez e pra cair na lucidez, só com laringoscopia mesmo.
aí a larva vira bicho e come a gente.
e sabe Deus se você também não é larva de alguém...
eu sou...?
parece lanugem em cara de moleque que quando vê já enfeiou o pobre.
maldição! fica uma ova!
de a volta e vá embora.
larva que me come coração, rim, fígado.
quero é morrer de mal bom
que larva? lhe digo.
calendário reformado por Júlio César em 46 anstes de Cristo.
e vai ficar assim mesmo em suspenso.e tenho dito.
vide minha vida.

20070511

o que acontece:

sabe velha lavando calçada e a água entrando nas frestas em tudo que é fresta em tudo que é espaço em tudo que é coisa?
sabe casa de madeira velha em dia de sol
bem cedo do dia
bem cedo...
a luz na retina ferindo o olho?
sabe perfume barato fragrância de doce em saleta de SUS na entrada lotada que invade a narina da gente?
quem vem não importa veto, lacre, nada.
entra sem licitação e já está com os pés na mesa?
segue sem porta que impeça
e o outro descobre o meu outro guardado e eu vejo o outro escondido guardado do outro.
sei ser água.
sei ser luz
sei ser cheiro.
e me entra e me descobre
e te entro e te descubro
somos água
somos luz
somos cheiro
e nos sabemos.

20070510

.segredo

senta aqui
eu conto o segredo
conto do medo que eu guardo em telúrio
faz tempo que guardo e garanto segredo
que tange o friável do bobo do medo
que nem medo é, já virou cautela
por causa do tempo, esse bobo

convence a gente de tudo
que amor é ternura
que dor é baléla
que abraço é dispensa
que beijo é carinho
tempo engana gente

amor é grande, gordo e faminto que se molha e vê crescer
dor, sofrer bonito que se sangra, que se estanca.
bênção é sorte mentira. é porte de arma. é poder.
beijo é amor em dose aleopádica


hein, senta aqui
eu conto segredo
antes de tempo nem tinha medo
me disse "pondera"
me disse "espera"
aí caí
agora,
amor parece ternura (mais ainda é bem amor daquele)
foi-se a ventura
que teria eu vivido
não fosse o tempo
me ter feito esquecido

ímpeto, chamei de infância
tal amor chamei de ternura
dor fiz amiga
culpa é verdade
e a rima demodé
esqueci que era segredo.

20070503

fica

bem podia sair daqui de dentro essa coisa que eu nem deixei entrar.

podia dar ordem pra exílio mas autoridade nem tenho...
tanto que não o detive. não pude. sou pequena, cansativa.

podia expulsa-lo assim ... cansando.
não quero. nem posso. então fique. e pronto. ficamos os dois.
me fere e não suporto
mas fica
sou tola por querer dar o que devo guardar para ter o que certamente vou perder.
mas fica.

Não há quem prefira libélulas....

Há de ser que tenha sido
numa folha seca dessas
que perdi o rumo certo
e tornei-me libélula.


Há de ser que tenha havido
um momento certo, exato
em que perdi o futuro
10 anos planejado


e ainda que eu tenha sido
num desses meus passados...
um peixe, um pato
um passo certo,
hoje sou libélula de passo errado

aliás... nem tornei-me!
não tornei a mim...
fui batizada
"te declaro libélula"
"te conclamo libélula"
"te batizo libélula"


então agora sou.
e o que dizem "libélula"?
borboleta feia da noite
da tarde
sem flor
não que eu goste
não reclamo
prefiro mesmo
mas há quem prefira?
não há quem prefira libélulas...