20081024

curitimbetando

Anelando os prazeres da carne, larguei londrina e apareci em curitiba sem emprego, com um baita sono e cheia de perguntas pra fazer.



de quando em quando acho de grande valia discorrer em pequenas frasetitas sobre princípio meio e fim da empreitada em que me enfiei, por assim dizer, num surto sabe-se lá se de coragem ou extrema covardia.



por hora, conto do ônibus da melhor idade em que me colocaram, cheio de gente calva tossindo feito cão e da carta mais linda do mundiverso que a cindy me deu.
é desinteressante pra você, amigo que lê, mas é válido e relevantessíssimo pra mim, viu?

há que se permear os relatos com o tom poético das expectativas que alimento[ava].
me imaginei chacoteada pelos polacos daqui, maltratada por porcos curitibanos, fisicamente deformada pelo frio, emocionalmente amputada pela solidão.

obviamente pude pedir informações à torto e direito sem retalhação/chacoteamento, aqui tá um calor esgraçado, e curitibanos não são porcos nem tão polacos. ainda amputada pela solidão, creio que numa brevidade inimaginável alguém vai querer me contratar pra dar fim ao escárnio da ansiedade que me envolve os sonhos, né?

aqui os crentes são mais crentes, as loiras são mais loiras, os gays são menos gays, e o caldo de cana tem mais espuma.

a gente precisa considerar o curto período que eu tive pra elaborar todas essas impressões maldosas e taxativas, poh.

nem prometo regresso ou continuidade imediata já que eu nunca consigo cumprir, né? portanto, dia desses eu venho gorfar mais dessas preconceituosas e parciais impressões.
uhuuul.

20080515

História elíptica, cansativa e confusa de abandono, terror emasculado e chulo - capítulo 9

Pandemônio do cão essa coisa do cão que levava vida de cão resolver por conta dar cabo da rotina e ganhar o mundo deixando aos lamentos aquela que lhe deu lar no melhor estilo anarquista.

Enquanto afrancesava o bichinho não havia modus operandi de sacar qualé que era a do animal rebelde. Não me atentei aos símbolos recorrentes, né? Mudança de comportamento a gente logo pensa que é droga. Vi que o filho tava bem bonzinho, sem seqüela nem variação, aí não dei bola.
Retomada a aclimação do enredo, retomemos também a imagética da coisa aí.

Pingo correu ladeira abaixo num desenfreio sem fim e na desolação maternal eu procurei qualquer maneira rápida de alcançar o canino patatal [de patas, né?] descambando pras quadras descendo, descendo, descendo...

Naquele momento o instinto de mãe me tomou feito espírito ruim em caboclo chei d’alccol e dei jeito de seqüestrar a primeira montaria que meus olhos alcançaram. A biclicretinha rosa que o vô deu faz tempo.
No alazão do resgate fui buscar o rebento perdido tão afoita que não atentei para detalhes práticos envolvendo freios e tal...
O vento bagunçando a cabeleira me fez imaginar por alto que em breve poderia segurar novamente em meus braços aquele emaranhado de pêlo ensebado considerando a velocidade da bicicretinha.
E foi aí que a empreitada cavalaresca e medievo-californiano-ecológico-antiguerra-do-vietnã mixou.

Passados 5 anos de inaugurado, o freio cismou de funcionar tão bem quanto o SUS. Pingo já tinha ficado uns 300 metros pra trás e a parte do bairro que servia de cenário pro tuts-tuts de perseguição eu nem reconhecia mais.

tá. tou cansada. conto mais amanhã.

20080506

História inebriante de lamúria, despudor, violência, engano e assassinatos - capítulo 8

A série de pilhérias infantis anda me rendendo bons remembers - péssima desenvoltura no ambiente paternal depois das denúncias de despotismo, é verdade, mas a inacreditável habilidade de fazer forcinha e lembrar é compensadora.


Não que James Taylor tenha qualquer referência músico-familiar pra ser trilha de enredo caseiro, mas o significante da sentença que a criatura entoa musicando por aí diz muito do que pode embalar circunstâncias tensas.
Dá pra circunstanciar facilitando o entendimento, né? Certo. É feito quando a gente acerta! Mas acerta mesmo! Sabe? Toma a decisão certa, ganha qualquer coisa num bingo, chega cego em casa, faz aqueeeeela faxina de dar brio no ego da mãe, na escala progênita não tem validade; é o mesmo que um nada bem grandão. pois bem.


Nessas horas, James Taylor poderia abrir a porta da frente e cantar ‘i want to stop and say thank you’ pra catalisar uns bons fluidos de amor, né? Também acho.
Enfim. Choradas as pitangas, bóra relatar os fatos.


Nem tudo são flores numa rotina infanto-juvenil envolvendo ruas e cães. Um pouco mais maturada pela vida e pelas experiências protagonizadas, pude receber do clero paternal a oportunidade de treinar meus dotes cuidativos [é. de cuidado, saca?] com um cão.
Depois de uma overdose de sessão da tarde, resolvi batizá-lo Pingo. Um pobre cãozinho sofredor. Macho e poodle, né? Maior preconceito.


Éramos felizes.
Vivíamos numa redoma de amor, felicidade e brincadeiras infantis que Pingo adorava. Apesar de toda a masculinidade com que um cão bem macho com pintinho pode ser dotado, o mascote retumbava de satisfação com os vestidos de boneca que lhe serviam melhor que se fossem confeccionados sob medida.


As patinhas traseiras sustentavam o rebolado e as dianteiras seguravam minhas mãozinhas para ajudar nos saltos ao som de qualquer axé. Momento família, né?
Minhas receitas com terra e grama compunham sua refeição preferida. Apesar de relutar enquanto eu inseria a mistura na boca cheia de dentinhos novos, não mantinha segredo quanto ao prazer de apreciar a comidinha da mamãe. Lágrimas nos olhos e tudo.


Ah, o adolescer. Fase em que os hormônios renegam o ambiente familiar. Nesse momento quis usar de disciplina mais ferrenha, mas meu coração de mãe não suportaria esfregar focinho em jornal e aquela coisa toda de educação para cães.


Então, num fim de tarde nublado, guiada pelo aperto angustiante que me acometeu , saí da hipnose televisiva e fui acompanhar pingo em suas brincadeiras. Carregava um vestidinho rosa numa mão e um punhado de terra na outra, quando, no quintal, pude topar com a verdade nua e crua: PINGO FUGIU.

continua.

[mérito pro garbo trovador que viu numa 'mãe' a 'mão' em potencial]

20080429

História de enredo diabólico, pueril e estafaaante de amor e ódio - capítulo 7

Em 1992 faltava um bom tanto pra alcançar os 1,50m que me compõem atualmente, o que justifica o insucesso estratégico de correr quando me vi cercada por uns 4 pares de pernas maiores que as minhas. [contaria 5 mas imagino que a invalidez a essa altura já batia à porta da gêmea caída.]


senti a mão de Deus pesaaando sobre mim. Oh, sim amigo/irmão. tão jovem, já pude sentir a iiira celestial caindo sobre o meu cabelo desgrenhado, com os olhos serrados pela culpa e pela dor que carregaria até que a morte me sobreviesse. Sneti no ombro direito a mão pesaaada, calejaada, peluda e meio marrom (?) desvio de memória.


apesar de mentalizar nos momentos de tensão a figura divina com as feições do morgan freeman a mão peludona era do meu pai e num tempo record de 2min36segs já tava sambando na minha bunda.

na roda do constrangimento eu sambei. sambei largada rodando até o chão na lambada do pastor por ter inserido fator novo na rotina boring da vida da gêmea semi-morta na chon*

20080424

História de rancor, emulações, prostituição e crimes - capítulo 6

Coisa feia é deixar quem lê num vácuo quando dá branco.

Deve haver jeito de entreter quem acompanha os capítulos ainda que não haja fiozinho desses de inspiração pra relatos, ou que me tome a maior inércia verbal. Num episódio em que há leitor pro conteúdo e a gente larga mão, quando volta é bom vir com desculpa boa. Dessas que não dá pra não menear a cabeça em concordância sem titubeio, tomado de dó. Tou sem nenhuma agora.
Aí é que dou saltinhos, tamanha a vangloria do tormentoso talento de afugentar leitor, logo, de inescusável, me absolvo e passo a ser novamente a imperatriz dos contos de amor, intriga, sangue, ódio, ciúme e aquela parafernália toda.

Ambientada num enredo anabatista em essência e livre da concupiscência torpe, não haveria jeito de tecer maldadezinhas sobre a educação com que fui aveludada. Nesse espírito, mancomunei-me com a melhor das intenções e resolvi apregoar a alegria.

Num gesto encantador de altruísmo duas jovenzinhas espalhavam cera vermelha sobre o chão da igreja pastoreada pelo pai em 1992. Morávamos numa espécie de apartamento sobre a Igreja e aprendi a dedicar as tardes na magnífica arte de apreciar o enceramento do chão.

Uma das moças tinha lá suas cinqüenta primaveras e a outra também. Gêmeas idênticas, né? Idênticas em arquétipo, ossada, emulações e inconveniências.
E para dar fim ao marasmo colossal instaurado no ambiente batismal, resolvi apregoar alegria brincando de esconder com as tias da limpeza. Acha improvável que tias de limpeza depois do meio século de vida? É só não contar. Eu escondo, elas enceram, eu grito, elas morrem.

Certo. Numa avaliação mais minuciosa, perceberemos que na real, eu não gritaria. A mãe ia notar, né? De fato, não dá pra chamar tanque batismal de esconderijo e das duas, só uma tá morta [ e não foi minha responsabilidade de acordo com a perícia ].

Todavia, acometida dos fluidos de bondade com que fui criada, achei por bem tornar o clima de trabalho das velhinhas mais agitado. Escondida no batistério, berrei qualquer coisa do naipe de ‘ÁIJESUSMARIAJOSÉLADRÃOENTRANDO’. Trambolho de encerar prum lado, gêmea 1 pro outro, gêmea 2 na chon.*

Pensei: ‘caraleas! Funciona. Tão regorgitando de felicidaaaade. Olha lá a carinha das bichinhas.’
Era puro blefe. Vê só! Tavam armando pra mim! Mais dia menos dia o pai chamou na chincha, sabe? Aí eu conto amanhã. Tá tarde.

hihih

20080315

História de aventura e peripécias dramatúrgico-interpretativo-paulatino-paliativas - capítulo 5

A dúbia mentira tornou-me duplamente mascarada. Vassala em casa e víbora na escola. Aquilo de ser malandra tava me incomodando, sabe? Achava bonito ser Nice Guy tipo o Jackie Chan. Não sei se pra sorte ou azar a situação seria mais lacônica do que eu havia calculado.


Evoco agora seu espírito crítico, amigo, para uma breve avaliação do malfadado ensino público. De acordo com as diretrizes comuns dum determinado grupo social, é passível de compreensão que a trupe promova reuniões para acertar seus meandros e pormenores. Certo? Ta legal. Até aqui tudo bem. Substituindo 'determinado grupo social' por pais e mestres, temos uma reunião de escola. All right.


O que é que se deve tratar num aglomerado de gente de meia idade, todos com algum índice de miopia e com semblante abatido, contendo especificamente pais e professores? A última sacada fenomenal do atual regente da pátria? Os inauditos acontecimentos de Maria Mercedes? O fabuloso destino de Amelie Poulain? O que rolou na última festa no BBB? Obviamente todos vão concordar que em reunião de conselho trata-se de assunto do conselho.


Num surto de rebeldia, burlando todas as regras sociais citadas acima e desvirtuando a pauta educacional que deveria ser o objetivo de uma dessas reuniões na minha escola, minha mãe, tomada de simpatia dirigi-se à gorda loira.


A professora, por sua vez, entregou-se por completo ao sentimento de compaixão mais cristiânico já identificado, arqueou as sobrancelhas e franziu-as num singelo quê de 'óóun' fazendo dupla com o sorriso e como num daqueles jograis de natal, as duas formam um coro em uníssono para perguntar simultaneamente:


- e a perna?


Putaqueopariu.

Que é que tinha de perguntar do inferno da perna? A pergunta deveria ser sobre o meu desempenho escolar, sobre minhas idas frenéticas ao banheiro, sobre a minha prova fracassada, meu caderno incompleto, minhas perguntas inoportunas na aula, meu péssimo hábito de cuspir nos transeuntes nos momentos de recreação... que é que tem que perguntar da porcaria da perna? Olha pra ela. Ta boa? Ótimo. Ta sem gesso, então é porque ta boa. Acione o bom senso que há em você, caramba. Maior falta de delicadeza.


E foi exatamente pela ausência de tato de ambas as partes que me ferrei grandão. Enquanto a trama se desenrolava no salão maior, perto dali estava eu. Ingenuamente instalada na minha carteira desprivilegiada. A segunda da fila do meio. Sentia os perdigotos da educadora infantil tocando minha pele, como fossem respingos de algum ácido. Infelizmente não nasci tão sensitiva. Torci para que, caso fosse desmascarada, uma fisgada no peito me avisasse como nas novelas. Não funcionou.


Depois de esclarecidas as versões, ganhei carona pra casa e se trocamos 3 frases inteiras no caminho foram muitas. Conheci então mais uma mutação de reação familiar. A perplexidade paterna. É quando você transcende as expectativas na categoria 'decepcionar a progenitude'.
Meu pai, do alto da sua sapiência pastoral jamais poderia conceber tal ato de devassidão da criatura mais precoce na cristandade e o escambal. E o castigo seria ortodoxo. Não castigar.
Portador da maestria nos flagelos infantis, meu pai optou por discursar horas a fio sobre índole, caráter e boas maneiras. Uó. em breve, muito breve [dessa vez eu juro. breve mesmo] os detalhes da tese de valores do pai e a próxima desventura contendo sabão, coluna e batistério.

Ahá!

20080302

história muito, muito, muito dramática de luxúria, revelações surpreendentes e traição - capítulo 4

Conhecendo as mazelas da infância por empirismo, soube que tão logo viria algum castigo. Anote. Depois de uma tarde de extrema satisfação tendo 4 horas ininterruptas de espasmos emocionais com novelas do sbt, crianças sempre recebem punição. A minha, como a maioria massiva dos elementos nessa história, deu-se com certo retardo.


O prejuízo causado por imbuir cristianismo logo cedo na vida da gente é aquela porcaria de consciência que lateja com qualquer pequeno deslize, como inventar um dramalhão na segunda série do fundamental.


A efemeridade dos prazeres carnais [novela de tarde + leite com nescau até inchar] deu lugar ao processo ridicularizador da culpa. dormi pensando que talvez fosse menos grotesco, mais inteligente e muito mais apelativo ter dito a verdade, mas... convenhamos isso de contar a verdade só atrapalha o desempenho infanto-juvenil dos dotes dramatúrgicos, e se você que enquanto passa os olhos na minha ficha criminal precoce desdenha da imensa responsabilidade de carregar sobre si a professora manca, eu gostaria de trazer à memória do leitor as raízes nordestinizadas e acariocadas do meu lar.

Contar e se ferrar seria tão natural quanto comer e cagar, beber e mijar, bater e correr.

Na época, meus oito anos de experiência com pais me apontaram 'mentir' em lugar de contar a porcaria da verdade depois de reproduzir a cena mentalmente. Me auto-delatar confessando que me faltou coragem pra bater no portão e entrar na aula seria o mesmo que assinar com digital de dedão um atestado de asnice. Como é que eu ia explicar que metade de mim foi suficientemente rápida pra chegar primeiro na porr# do óvulo e, oito anos depois, suficientemente lerda pra não bater na porcaria do portão da escola e entrar? Eu fiz a coisa certa. Mentira justificada, a gente segue com a narrativa.

Certo. Depois de entrar em êxtase com Maria Celeste e similares – a Paola Bratcho ainda não tinha gravado a usurpadora e a Thalia era a Maria Mercedes - inaugurei minhas muitas noites insones pensando no conto do vigário que eu vendi pra minha velha e desgraça da consciência pesou tanto que não sobrou espaço pra conceber a interpretação pro dia seguinte. Obviamente a intrometida da professorinha ia me botar na inquisição sobre a falta no dia anterior.

Foi bate-pronto. Tudo no improviso. Sinal bate, dedo no nariz, meleca no cabelo da Taís, suco da merenda vazando, o coro ‘quatro-olhos’ me acompanhando até a sala. Escalei os degraus até a classe da segunda série do jeitinho que tá no registro de nascimento. Branca de medo até os mamilos. Decidi. Se meus pais foram privados da verdade, não era praquela gorda loira que eu ia contar:

- Lilian Soares... ?
- presente.
- faltou ontem?
[não. não faltei. me promoveram. agora sou orientadora, mula]
- hunrum...
- o que aconteceu?

Numa lasca de segundo vi o dedo do meu pai no meu nariz contando sobre como a baleia mastigou o Jonas fujão e a mulher de Ló que virou estátua de sal, aquela vagaba. [vide bíblia. desobediente/mentiroso/covarde se ferra.] Tudo um bando de safado da pior categoria. Eu ia me ferrar. Eu ia me ferrar. Ferrei-me grandão. Tava completamente fodi$%#@.

- eu tava saindo de casa ontem, bem prontinha pra vir, aí veio um caminhãobemgrande e atropelouapobredaminha mãe. [assim tudo junto mesmo. Foi um gorfo]

Não dava pra inventar elementos diferentes então eu fiz uso dos que compartilhei com a mãe sobre a professora. As duas com a perna direita engessada por terem sido cruelmente atropeladas. Quando me dei conta, outra baita mentira já tinha saltado da minha lingüinha ferina e Deus tava fazendo tsc tsc pra mim. Chorei num soluço tresloucado de quem carrega culpa pela primeira vez – não que eu nunca tivesse traquinado antes. A novidade era a culpa, saca? O choro era de um remorso quase tão porco quanto o de Judas, mas no contexto, a gurizada e a professora seqüelada assistiram o evento como quem vê uma Chiquitita contando suas histórias de órfã.

Me dei bem. Alento, fama, condolências, perguntas, atenção, lanche extra, giz colorido e a trégua dos coristas no entoar de rimas sobre os meus óculos.
Cheguei em casa toda raposa: “vou deixar um dente apodrecer, comprar anéis dourados com pedras grandes, um chapéu de gafieira, usar camisa de chita meio aberta no peito e virar malandro”.

Queria mesmo é que o Zé de Alencar tivesse escrito minha história. A gente parava por aí, eu virava atriz e morria rica nos braços no Johnny Deep. morria não. Era transladada.
Mas a tendência do cinema agora é todo mundo brocha e mal-amado no fim - no naipe do Martin Scorcese ferrando até o DiCaprio pra algum filho da mãe dar Oscar pros infiltrados - eu tava por cima da carne seca na contagem regressiva pra quebrar a cara.
E é claro que vai ser preciso esperar até a próxima semana pra saber como foi que eu me estrepei dessa vez. Post grande brocha leitor e eu certamente vou precisar de uns 965.427.635 caracteres pra relatar o fim do infortúnio.

abRrá.

20080227

história fantástica de intrigas, amor e paixão – capítulo 3

Obviamente, depois do dito episódio as coisas mudaram um pouco no tocante às recomendações e a variedade de castigos/corretivos aumentou significativamente. Não satisfeitos com o flagelo físico, meus pais optaram por aderir à moda do sacramento da dor emocional.
Consiste em ameaçar o unigênito com a primogenitude. Sacou? Deixar de ser o único pra ser o mais velho.
A Usurpadora [vulgo ‘irmã caçula’] conferiu ao nosso lar doses diárias de discórdia e maledicências, munida sempre de habilidades muito competentes: mijar, cagar, gritar. Nesse ínterim eu já tinha desenvolvido no mínimo uns 7 métodos diferentes pra me estrepar na escola e em casa com a língua grande e a cara de fuinha. Minhas réstias de atenção ameaçadas por um feto gritavam por socorro. Foi então que o oráculo infantil chamado Xuxa Meneguel me deu uma luz [eu sempre soube que ‘lua de cristal me deixaria seqüelas por toda vida, mas quis assistir].
Tá legal. Não foi nada premeditado já que aos oito anos eu ainda achava que a vovó Mafalda era mulher. Não tinha QI pra arquitetar planinhos malignos maléficos do mal como o que rendeu uns milhões pro Macaulay Culkin em The Good Sun.
O relevante é que a coisa funcionou. Anote aí. Você vai precisar de:
1 - Professora com disfunção cerebral mínima – uma unidade;
2 - Uns 0,98% de credibilidade com os pais;
3 - Dom interpretativo infantil – duas unidades;
4 - Um “porta-consciência” para esconder a bichinha de si quando for necessário;
5 - Tesoura sem ponta;

Bem-aventurado o pai que matricula filho hiperativo em escola presbiteriana. Eu já cursava a segunda série no Reverendo Jonas Dias Martins quando aconteceu pela primeira vez. Tudo bem que depois de certo tempo a gente pega gosto pela coisa e não há como evitar, mas o prazer sobrenatural de cometer tal ato não tira o fardo que se carrega quando a primeira vez é a sua. Aos oito anos ninguém pode estar psiquicamente preparado, mas aconteceu.

Cheguei atrasada na escola.

Amigo eleitor, eu, 10 anos distante da maioridade, já enfrentava a dura vida dos coletivos pela cidade. Saí da porr$% da casa da amiguinha atrasada e cheguei depois do ritual macabro em que se fecham os portões de aço e cobre e granito da porr#$ da escola porque o ônibus também não ajudou.

Num desalento na frente da escola na beira da calçada me pus a chorar por ter chegado depois do sinal e em menos de 7 minutos a minha tenra face já se tingia de pecado. Sem coragem para bater no portão e dar de cara com a Marlene que me conduziria até a cadeira mal estofada da diretora pra levar o sabão, me vi no caminho de volta pra casa maquinando o que seria a minha primeira manifestação teatral pública.
- que é que você faz tão cedo em casa, lilinha?
- a professoraTatianaquebrouaperna. [olhos saltados simulando um semi-espanto]
- nããão. Sério?
- éééééé!
- nãããão. Jura?
- éééééé! Que coisa, não? – acrescentei num ar meio lúgubre [okay. O mais lúgubre que uma criança semi-alfabetizada poderia simular].
Notando os segundos de descrença me desfiz em pranto pela pobre professora estatelada no chão beeem na minha frente enquanto eu entrava no colégio e as aulas todas foram suspensas e foi um carro preto com um cara gordo que esmagou todos os ossinhos daquela perna roliça e pegou de cheio a direita dela e ela desmaiou na hora e tiveram que chamar a emergência e o gordo fugiu e ela ligou pra polícia e bla bla bla bla bla.

Pronto.
Por hora, a fase A do plano B ‘havia sido’ consumada com sucesso. A lorota malfadada colou e eu passei o resto do dia vendo TV. Porém... na manhã seguinte...

To be continued.
Rrá!

20080220

história bem maravilhosamente permeada de sangue, conflitos e final absurdamente feliz - capítulo 2

Meter-se a lançar pretenso best-seller para fazer boa figura entre as anormalidades literárias é besteira. Quando o mentor intelectual da farsa ainda é calouro nas esquizofrenias autobiográficas é besteira suicida. Quer ver piorar? é só contar para os dois ou três leitores nas últimas linhas do prólogo que aquela propaganda do subtítulo é pegadinha do malandro. Enfim, agora que as coisas já estão às claras e já se sabe que a história de amor e aquela firula toda era atrativo para atrair leitor de saga, não sobra alternativa senão prosseguir. Seria a única opção não fosse nobreza daquela que concebeu o título sobre história de amor e bla, bla, bla. Prometo permear a infeliz desventura do rebento (eu) com a fantástica fábula surreal do romance entre quem deu o ponta-pé inicial nessa coisa toda (meus pais).

Numa retomada ignorante do primeiro capítulo, a temática era o período pré-alfabeto. No tempo em que ser dona-proprietária de cabelo desgrenhado, óculos com a cara da Mônica nas astes e unhas roídas fazia de mim alguém extremamente especial [apenas para adultos, obviamente] eu descobri premissas pra vida:

1. falar bastante faz você parecer autoconfiante se souber fingir bem;
2. falar bastante faz com que você realmente acredite que tem domínio da situação [incluindo idas à orientação na escola, esquiva de castigo, papos de velhotas e papos de igreja];
3. falar bastante faz você parecer mais inteligente se conseguir concentrar todo o palavrório em cinco minutos [mesmo que seja um discurso de meia hora]. é só articular bem as palavras;
4. falar bastante também pode te fazer parecer bem idiota;
5. falar bastante te obriga a permanecer depois das aulas de castigo atrás da porta;

1989 acolheu minhas primeiras punições por querer parecer esperta.

Imagino que tenha sido num momento desses de ternura entre pais e filhos - desses em que a gente perde um pouco o raciocínio lógico e acha que coisas como levar criança pra jantar de adulto num ambiente sem criança funcionam - foi que os meus optaram por não me deixar vendo televisão com alguém enquanto jantavam na casa de velhos amigos. Eu fui junto.

uma das vantagens de crescer num lar cristão é o desenvolvimento de habilidades cristiânicas como o amor. Foi o amor que me moveu a pensar em fazer valer aquela oportunidade de mostrar para a minha mãe e seu cabelo de Sebastião da época que eu poderia freqüentar as reuniões de adultos sem problemas. Nas roupas eu não pude influenciar muito e fui vestida de bolo mesmo, mas o que importa é o conteúdo, rapaziada. Levei um livro de anedotas do Ziraldo e minhas melhores frases de efeito para entrar no contexto quando fosse necessário.

Era tanta confiança no pequeno prodígio aqui que eu nem me lembro de ter ouvido recomendações como 'não fale de boca cheia', 'não é permitido comentar as idas ao banheiro', 'peido, pum, arroto, virar os olhos. banidos'.

Não foi necessário. Nessa noite eu me comportaria como uma daquelas crianças encantadoras moldadas e aperfeiçoadas por gente do naipe de Mary Poppins e Super Nanny.
Na época eu completava meus seis primeiros anos e na empreitada literária há poucos meses, me interessei pela jocosidade dos trocadilhos e piadícas infames que eu nem entendia, mas provocar riso é sempre uma boa entre os adultos, né?
Na mesa, pedi atenção da maneira mais polida, versátil e infantil. Gritando. Funcionou. Naquela de quem fala mais alto, quando a adultaiada começa a se exaltar e tudo acaba numa grande gargalhada eu quis entrar na disputa também e ganhei destaque.
Com aquela feição de expectativa trocando olhares entre si que representavam alguma coisa parecida com “olha só que gracinha!” foi que aquele pessoal acompanhou a minha piadinha envolvendo elementos ingênuos como sorvete, saia e poste.

Mais ou menos isso:
- e aí, o joãozinho mandoua menina subir no poste e ela perguntou: ‘mas o sorvete ainda não mudou de sabor’ e ele disse: ‘aaah era só pra ver a sua calciiinha’.

Desde então eu descobri que toda criança passa por uma espécie de trote familiar para entrar no universo adulto. O que os pais chamam de surra.

20080215

história bem bonita de amor com final feliz - capítulo 1

o romance mais aguardado agora em fascículos.


Uma pancada das tramas literárias que tendem a virar trilogia-epopéia tem seu início, quando ainda em livro, com descrições de no mínimo duas orações sobre o clima [como se a porcaria da estação realmente ajudasse em alguma coisa no desenrolar do dramalhão que se segue]. Não consigo imaginar nem de perto a temperatura debaixo daquela vestidorama da minha mãe em outubro de 1984, quando meu pai conseguiu convencê-la a casar-se com ele. Pulamos a parte climática com a denúncia do local do enlace matrimonial. Rio de Janeiro, Duque de Caxias, em outubro [não que o mês vá alterar alguma coisa no imaginário de quem sabe como é que a coisa funciona naquele Rio de Janeiro cheio de mosquitos transmissores de doenças e mais quente que ferro de carvão].

De qualquer maneira, até o momento do altar de suor muita coisa aconteceu e é essa muita coisa que me proponho a transformar em prosa.
Depois de muitos solavancos no pau-de-arara da vida, meu pai, piauiense, 29 anos, tendo cursado até o quarto ano do primário, deu de Don Juanar a carioca mais cheia de banca do meio batista. De flerte com o filho do pastor da Primeira Igreja, quase patrimônio histórico do Rio, figurando entre os donos da maior membresia do velho oeste com seus 600 componentes ativo-atuantes-participantes. Coisa de batista. Minha mãe e outras cocótas faziam a vez pela frente suntuosa do templo carioca quando o magricela do meu pai deu com os dedos na nariga arrebitada da dona minha madre e como nos filmécos da época disse “eu ainda vou namorar você, Mirian”. É claro que ele deve ter dito isso num surto psicótico suicida e ter saído correndo depois ou, como manda a cartilha soarina, deu uma gargalhada gutural e fingiu estar brincado.

No fim, a estratagema furada funcionou e depois de um dramalhão que eu conto num outro dia, estamos de volta ao altar.

Quando criança eu cismei que aquela horrorosa que levava as alianças nas fotos era eu, dando vazão aos primeiros sinais do que seria o triunfante complexo de inferioridade estética que nos acompanha até a adolescência. Como eu ainda apresento traços fortíssimos do comportamento adolescil [que certamente me acompanharão até os anos 80 do século 21], essa imbecilidade acaba por tornar-se fato relevante. Isso da feiosa do buquê ser eu. Tempos depois, aprendendo cálculos no Kumon, notei o quão improvável seria que aquele monstrengo das alianças fosse a mesma lilóca. O que não amenizou a decepção nos momentos de espelho em que eu decorava cada dobrinha roliça no meu braço gordinho aos 7 anos.

A essa altura meu truque para engodar um possível leitor que ingressou na empreitada de engolir esse texto imaginando tratar-se da comovente história de amor dos meus pais já deixou de funcionar, não é? É a minha história. A-há! Te pegue-ei!

20080121

tribos urbanas


Sempre contando com a colaboração de grandes pensadores do século, Tribos Urbanas ressurge num golpe de mestre de O. de Paula, nosso cronista desta manhã!



Hoje, com os monitores B-HD (Braile - High Definition) e a mais nova revolução na comunicação, o Psy-Codigo-Morse, aqueles que não têm a habilidade de enxergar gente morta com muita freqüência [gente viva com menor freqüência...] são os componentes da malfadada tripo cegueta.


Tendo como caracteristica principal o Romantismo, são flagrados constantemente dividindo o mesmo fio de macarrão [até dar aquela bitoca ao molho] e o espetáculo se repete com um tabaco e chocolate... é a coisa'marrrlinda!


São incrivelmente alergicos às substancias liberadas pelas pontinhas de borracha das bengalas*, mas são imunes ao daltonismo! não é legal?


Sua inteligencia peculiar lhes conferiu descobrir que o azul que um não enxerga é o mesmo que o azul que o outro também não vê.


Também são imunes a piadinhas da infamidade; observe:


1- Infame:
Leia isso: [Não consigo ler nada]


não cego: - Não consigo le-rrr na-da.


Infame: - Então se aproxime e tente denovo.


não cego: - Ok, não consigo ler na-da.



2- Infame:


Leia isso: [Não consigo ler nada]


acometido pela cegueira: - Não consigo ler nada!


Infame: - Então se aproxime e tente ler denovo.


acometido pela cegueira: -É cegueira, po! e não analfabetismo funcional.


3- Infame moderno:


- Leia isso aqui:


[..'.''..''..'''..'''.']


acometido pela cegueira:


- Não consigo ler nada.


Infame moderno:


- Ok. Não quero parecer chato mas suas córneas anelares precisam ser operadas




*"tava no onibus;uma senhora grávida sentada e com o onibus já lotado entrou um velhinho com uma bengala e teve que ficar de pé. A bengala dele escorregava e ele quase caia; a grávida disse a ele:- se o senhor colocar uma borrachinha na ponta dessa bengala ela naum escorrega mais!o velhinho:- se o seu marido tivesse colocado uma borrachinha na ponta da dele eu tinha um lugar pra sentar!"
ahahaahahahahahah

20080118

ilustração


Feto xiita posto de castigo depois de tentativa de suicídio

reverb tribos urbanas

num milagre semântico nasceu ELIS REGINA DA SILVA, colaboradora da saga que doou o mais belo dos capítulos.




Está é a única tribo urbana que você não encontra andando por ai. Não gastam calçados de jeito nenhum, na verdade esses camaradinhas não gastam é com nada, são verdadeiros parasitas intra-uterinos, também conhecidos com fetos!

Os fetos são de fato vistos como irrelevantes aglomerados fatídicos em fase de transição, vivem reclusos e esquecidos pelo resto da sociedade, não sendo reconhecidos como classe até que migrem para a tribo dos infantes.

Toda essa falta de consideração que a sociedade tem para com os fetos acaba causando um sentimento de revolta. Desde priscas eras a insurreição desses bolinhos celulares está instituída. A revolta consiste em lutar pelo que estabelece a declaração dos direitos do homem: TV acabo, literatura dirigida, intenet (mesmo que discada) e coca-cola.

As ações táticas dessa tribo na luta pelos seus direitos básicos se dão por meio de chutinhos delicados, escondidelas do sexo e, entre grupos mais radicais, suicídio com o cordão umbilical. Tudo o que eles exigem em sua luta secular é uma vida digna nesse lugar obscuro e sombrio chamado baixo ventre onde foram "introjetados" sem a mínima autorização.





fica o protesto, não é mesmo minha gente?

conto da meia preta


I



ela reflete




Nesses tempos em que a gente fica abatido, meio gripado, vai ao médico e ganha guia pra neuropsiquiatra, ela leva essa vida meio sem graça, meio chata, meia boca, vida de meia, saca?
Infortúnio do destino foi que conduziu o doutor senador pra comprar pacote cueca box + meias pretas brindeando o kit. Comprou-a para fazer vista com o sapato preto, a gravata engomadinha e aquela indumentária toda desse naipe de maleta e gel no pouco cabelo.
O pé esquerdo da meia preta. Pendendo na ponta da gaveta feito essas donzelas de livro velho imaginando que vida de meia hippie é que era boa. Cantar e sacolejar entre sandália suja, filho! E ainda mais! ser a peça principal já que essa hippongada nasceu livre das amarras sociais que compelem a gente a fazer uso dessa coisa cafona que é roupa, né? Aí é que tava a vida. Isso de beijar bico de couro todo dia fazia o cerebelo parar de oxigenar. Credo. O pé na meia, a meia no couro o couro na rua. Que caramba! Quem lambia o joanete era a pretinha da meia e quem via o mundo era o safado do pedaço de couro/sapato. Sacanagem...





II





ela deprime








Ralinha de uso por ser exclusiva vivia a rotina malfadada: gaveta, pé, roupa suja, água, gaveta, pé, roupa suja, água, gaveta, pé. A pobre desde menina tem como parceiro, além do pé direito, a porqueira toda que um pé de hobit feioso guardado 18 horas diárias pode conter. Na cômoda onde o deleite era sonhar com prosopopéia e fingir que era meia de hippie, a esquerda parte do par de meias pretas do mais nobre excelentíssimo senhor ministro de sei lá o que (tem coisas que não são relevantes na vida de uma meia) nem sabe direito se é mesmo esquerda já que meia a gente veste de qualquer lado, mas pelas divagações de esquerdista que a behaviorista tem a gente logo deduz né? Povo besta fala da rebeldia da me. Já ouvi dizer até que era por ser preta! No Brasil minha gente, ser preto e de esquerda é fod*.
Rotina e lugares desprivilegiados deprimem qualquer pedaço de tecido libertário feito a tal meia preta do pé esquerdo do tal do ministro de sei lá o quê. Dia passa que a gente nem vê quando se está do lado de fora feito gravata, abotoaduras, sapato... quando se é meia, amigo, a gente tem couro duro batendo na cabeça dum lado e dedo encruado do outro e é sinuca/dilema todo dia.




III









ela definha







Era um vazio. O vazio quase cem vezes maior que de fome e que o pé cabeludo não podia preencher... vazio n’alma.
Num domingo chuvoso o extremo horror de si a tomou por completo. Cabisbaixa e pensando latim [porque não há nada que combine mais com morte do que latim, já dizia F. Telles]. Centrífuga barulhenta mal a deixava pensar um positivo bem hare chrishna e deixar de pensar besteira. O cheiro de água sanitária onde cueca Box Branca nada agonizando fazia tudo virar cor e som distorcido.
Foi quando um torpor de meia com bafo de peixe soprou pra pobre da meia meio desalentada que melhor seria dar cabo desse fardo no balde de sanitária. É. Coisa do ‘meia-meia-meia’. Metade queria matar-se e outra sublimar a crise meio que num supetão... Fazer passar. Isso de querer e não querer virou transe, alfa, zonzeira, gorfo, sacolejo, pileque, porre. A pobre mal se segurava no cesto da roupa suja de cara pro balde... e no três o pobre paninho viu a vida num segundo. Quando ainda tinha ‘lupo’ no verso, plástico e etiqueta no lugar de cheiro mofo e couro lhe roçando... ah, meia fadada ao alento do além!




IV





ela reviiive!




Splash balde a dentro... Sentiu comichões pelo corpo destonalizando cada pedacinho negro feito Michael Jackson! Num segundo já via tudo turvo e pedia socorro num frenesi! Branco, negro, branco, negro, branco negro...
E vejam só onde é que a pequena parou! Caixa de papelão cheia de cacareco colorido só podia ser coisa boa. E o cheiro era feito doce, feito bom! Sem calo, joanete, couro, aperto, fedor!
O vazio? Que vazio, minha gente? A meia envolvia uma coisinha nova, rosada, macia, cheirosa! Como é que é? Mão! Ééééé!! mão de mulhééééééé!De meia vazia, fedida, deprê, esbaforida, alvo de deboche, a meia esquerdista, pretinha [agora mêi bege] virou foi fantoche!









clap clap clap!

freeeakstyyyle!


Para o capítulo que explora o último elemento de celulóides componentes desse frenesi que é o convívio social, escolhemos o pitoresco amontoado de características belas que quando em desarmonia causam uma das mais curiosas anomalias visuais: FREAKSTYLE.

Adotamos a terminologia bushense-norte-ameríndia pra facilitar a compreensão. Freakstyle é uma espécie de ofensa visual indizível e impossível de se classificar na categoria do categorema de horrorosidades (vulgo: feios).

Amontoar combinações na tendência ‘retrô’, recente corrente filosófico-indumentarial é o ‘in’ no âmbito freakstyle. Se observarmos as tendências freakstyleanas vamos notar nuances do que a gente pode chamar de bonito isoladamente, mas o tal do ‘over’ é tããão ‘over’ que vira um amontoado de caracteres provocando o que os ambientalistas chama de poluição visual.

A ofensa visual não é feiurinha nem defeito de nariz. É Acúmulo de acessório/características gritantes. Saca orelhudo com cabelo surfistinha? Desse naipe. Temos também beiçudos narigudos. Não são necessariamente feios, mas são ‘oooover’. E mais uma vez a natureza impõe o grupo ao qual pertencemos não é mesmo minha gente?

Idosos, infanto-juvenis, nostyle e freakstyle nasceram presbiterianos [predestinados] a pertencer aos seus respectivos grupos... sentença, bênção, maldição, sabe-se lá.

O que vale é pertencer e despertencer feito os parasitas de gangues. Pensa só: velhote, orelhudo, com cabelo surfistinha, desorientado quanto ao que vestir e no que acreditar. Pôh! Uma criatura dessas pode ser o que quiser, manja?

Neste último capítulo, pequeninos, tomamos como lição alguns princípios básicos da vida em sociedade:

1. cuidado com suas orelhas grandes. Elas podem determinar o grupo ao qual você vai pertencer para todo sempre.

2. Parasitas sempre se dão bem.

3. A Elke Maravilha não pertence à tribo alguma

4. Sou um parasita.

5. Não prometa séries que não tem capacidade intelectual pra manter. ahahahahahahah

*

Num telefonema infeliz desses de quando a gente cai no infortúnio de fazer a coisa errada na hora errada foi que eu ferrei meu janeiro.

- alô! Oi! Chefa? Me dá uma pauta?
- toh de férias, Lilian, caramba!
Férias! Lá no dezembro ele parecia um janeiro tão seguro, tão pacato, tão bacana... tão chovendinho como todo janeiro que se preze...
Tou num janeiro tortuoso e novo demais pra minha calhordisse [de calhorda, sabe?]. Ora! Não moro no litoral, não tenho passe livre pra sambangandar nas madrugadas nem tou suficientemente incomodada pra fugir daqui, então, uma pauta cairia feito luva.
Minha desordem mental é quase do tamanho da preguiça que me toma desde segunda das 11 às 19h e eu mal consigo delimitar assuntos pra discorrer. Fico valsando nos acordes de ‘stars’ e perco as estribeiras da narrativa. Ó. Tá vendo ali em cima? Queria descrever a tarde do telefonema, mas agora, aqui, desisti. E é nessa inconstância que eu vou levando o janeiro. Tou fechando os olhos gordinhos e me encostando no travesseiro aí vejo nas pálpebras semi-abertas pedaços dos filmes que tenho assistido, dos absurdos que tenho vivido, das sandices que tenho pensado e faço força pra reviver os poucos momentos em que não ponderei as vírgulas todas. Em que eu não pensei no que diria ou pr’onde olharia. Esses deslizes do meu pudor/horror/temor distraído. Puf, dormi.

20080117

Enquantou tou parindo os 'freakstyle' ainda estamos em pausa pra contos.


Dia desses topei com uma espécie de Victor Hugo moderninho e achei de bom tom compartilhar uns tesouros literários. Ia colocar minhas críticas e um monte de blá blá blá mas um texto de surto precisa ser lido no surto mesmo.

Foi assim: Ferreira Gullar teve um filhote com o Dalton Trevisan e o moleque comeu a Lygia Fagundes Telles e daí veio o autor do texto, o dramaturgo mais cineasta de que já se teve notícia. É um Victor Hugo rasgando os bastidores das trevas em que se sepultam os homens.

dou só um pedacinho agora dum que gosto por causa dos elementos e que me causa inveja por não ter as minhas embolações de orações.





O vencedor da guerra.



Sou um safado. Morto, vivo, safado. Mas todos ao meu redor gostam disso; gostam da guerra é isso que querem. São muito burros, sabe? Não manjam do que falo. Boto minha mão no fogo se não vai ter neguinho que vai se complicar no que vou falar.
A guerra é constante, eterna. A 1ª Grande Guerra, a Segunda são uma tapeação. Guerras mundiais temos todos os dias. Numa discussão, no amor, olhares, até em brincadeiras. Podem me chamar de idiota, mas prezo pelo mais esperto. A raposa nunca passou fome. Trapaceou. Ora, contra as regras? Que regras? De Deus? Que Deus? Desde que isso foi construído a merda está feita, não existem anjos ou santos, os demônios estão soltos. Até diria eu que nem demônios, diria: nós que estamos soltos e sempre estivemos. A moral traz a ordem? Ou camufla a guerra? A guerra sangrenta que nos ocorre desde que nascemos ao mundo. Sangramos por dentro e assim dissemos: É a vida! Corretíssimo! É a vida. A vida é uma guerra e eu tenho que ganhar, sozinho, pois ninguém vive a mesma vida.
E matar? O que posso dizer desta tática de guerra tão cruel. Cruel para os olhos daqueles que querem que seja cruel e poder ganhar o grande jogo, a Grande Guerra. Uns, tolos, fazem o que mandam. São os "certos", eu diria: "perdedores". Vão ao trabalho perder mais uma batalha para aquele de posto superior, mas saem felizes para a casa aos braços da família. Foram enganados com a suposta vitória. Porém, cada dia a derrota é mais vergonhosa. Matar nem pensar podem perder a vida, a família e tudo ao redor, a paz de ser livre. Livre da consciência da guerra. Isso sim! E eu postulo! A realidade incognoscível é a realidade da guerra humana eterna. A linguagem nos deturpa, a práxis nos corrompe a acreditar na maravilhosa vida cheia de prazeres. É mais uma tática daqueles que querem vencer e ganhar a sua medalha. E quem nos condecora? Nós mesmos, os vencedores. Os perdedores sorriem e agradecem por viverem em paz e felizes. Não sabem eles que perderam! Perderam a guerra!
E Você deve estar se perguntando: e quem ganha? Quem ganha? Ha, Ha, sinto lhe dizer que ainda não houve ganhador.




por Rob Ashtoffen

20080115

[ pausa pro conto ]

Com os olhos altivos de quem exala formaldeído por todos os poros é que docentes mumificados ambulantes incriminam cada tentativa de tornar a academia dos “foca” menos pedante. O que os catedráticos do categorema ignoram é a transição do vidro pro pet que eu testemunhei! Do k7 pro i-pod, do álcool líquido pro gel, da touca pra escova progressiva, da metro pra ubersexulidade. Os pobres discentes de duas décadas feito nós se submetem à uma série de martírios impostos no ignóbil currículo destinado a protagonizar a decadência da nobreza no jornalismo. Observe:Estágio é coisa complicada de arranjar. A gente vende fígado na feira, cruza as pernas de mini saia na mesa do chefe do colegiado, deixa o Poney fazer massagem nas costas e mal consegue meia-entrada na mostra de cinema. Enfim, por embriaguez do destino e relaxo de Deus, consegui uma dessas biqueiras boas.Biqueira boa até a designação da tarefa mais jornalística que eu, projétil de foca mutante, já recebi.Revista Sescap é a revista dos amigos sindicalizados engomadinhos que pagam seus impostos ou os sonegam voluntariamente de modo que a aristocracia londrinense não perceba e os ame e respeite e os convide para banquetes light.Essa revistaê está no encalço de Devanir. A figura careca mais cheia de perdigotos de que já se teve notícia no mundo dos camelôs.Devanir é um cara barrigudinho de bigode discreto com a careca avançada pingando ironia.É contador, chefe, empresário e proprietário do estabelecimento cujo nome acima da porta indica: “contabilidade”.Com ele, outros três garotos, ainda no colegial, desenvolvem habilidades matemáticas com calculadoras daquelas grandes com botões que ativam aquele agradável som das teclas (estavam no modo on).Ele, o Devanir, trajava uma camisa pólo cinza com singelas manchas de suor nas axilas, uma corrente dourada (provavelmente carregando a santa protetora dos pilantras) e jeans surrado.Eu, a lesa, trajava indumentária comum aos trabalhadores infanto-juvenis. Um figurino infantilizado para compadecer entrevistados composto por saia xadrez + boleros com figuras engraçadas. Rementedo à colegiais, para que a aura de delatores que os jornalistas carregam fosse dissipada.Na porta de vidro, um menor de idade me lança o olhar de “que que é?”Eu pergunto: Devanir?Ele aponta pro careca na mesa do canto.Tudo num cubículo pouco maior que 5m².Estendi a mão, ele apertou:- oi! meu nome é Llian Soares e eu sou "estudante de Jornalismo da UEL" (aahahahahahha). O senhor poderia me conceder uma entrevista para cumprir atividades de estágio?Ele, suando:- Demora?Eu, implorando:- quinze minutinhos. Pode ser agora?Ele, bufando:- senta aí. Pode perguntar.Eu, no último grau que a falsidade pode atingir num sorriso:- como é que se dá o milagre do Devanir?Ele, abismado de olhos arregalados:- ah! (gargalhada gutural) aaaah! Vc ta brincando comigo? Já ouviu falar em ética?Você deve tah começando né? Vou te dar um conselho. Não pode entrar assim e perguntar isso. Andou me pesquisando?Eu, com a melhor feição de simpatia que eu consegui forjar no auge do ódio:- voltando às perguntas, pq a diferença de preço entre o senhor e os outros escritórios de contabilidade é tão grande?Ele, rindo um riso nervoso:- você pode se retirar. Antes que eu comece a te ofender, se retire.Eu, suplicando:- é só responder pq!!! Pq é tão mais barato?Ele, levantando:- ou você levanta e vai embora ou eu vou ter que te retirar à força.Eu, me mijando:- mas seu Devanir! Não vai ser publicado (mentira).Ele, segurando meu bracinho de leve mas na ameaça de estraçalhá-lo caso eu insistisse:- por favor, moça.Eu, com o rosto queimando num misto de raiva e covardia:- eu falei alguma coisa que ofendeu o senhor?Ele, comigo já na porta:- Não. Não falou não. Ta vendo isso aqui? (apontou pro tapete) Isso aqui, daqui pra cá é minha propriedade. Você se retira, passa daqui pra lá e nunca mais volta, por favor.Eu, derrotada, sem matéria, sem fonte, sem coragem, sem chão:- sim senhor.