20070607

consulta, vertigem, consulta

> vertigem:

finjo pra mim que pareço novela
e que alegrias... as tenho aos montes.
me finjo certa.
aí entro e fecho a porta
então o dom artístico aflora.
dom de fingir.
até dói porque a falta de talento é tanta que vão os dias até que a frase me venha
com a dor vem a vertigem.
a escondo - me machuca.
as coisas se movem.
meus olhos vão fechando, fechando...
olho pros olhos iguais aos do Judas, aquele primôr do falsete falsário.
e são os meus
esses frígidos, fingidos e cheios de sono
que vejo e confundo com os gananciosos e confusos olhos do jovem Judas
assassinado pela autocomiseração. e fico a pés do chão.
e penso em Judas, peno nos olhos.
mal penso.



> a consulta:

Dias desses vinte anos de tanto fingimento serviram para lapidar as virtudes da dramaturgia que desenvolvo sorrindo aos quatro ventos.
aí vem a vertigem e me confunde. tanto sono... tanto Judas...
agora no consultório.
No diagnóstico, aquele em que vou precisar ter breve conversinha com o neuropsiquiatra, me assusto.
alguém me viu.
ela me viu.
Doutorazinha esperta.
a vbertigem foi que me despiu e lá dentro, no consultório, ela me viu.
não pude fingir, não pude sorrir.
antes que eu tivesse a chance de voltar a interpretar a bruaca da médica já tinha a receita na mão e o princípio de depressão.
Me vi ali pequena e burra a ponto de não pdoer levantar.
ela me viu zonza, com olhos de sono, boca rachada e seca.
me viu consada, pálida, ébria, triste.
talvez não tenha visto o Judas em meus olhos, mas viu demais.
é o que ela quer que o tal neuroqualquercoisa veja!
o que não imaginam,nem ele nem ela é a surpresa que preparei!
meu melhor sorriso. meu melhor discurso.
um sorrir daqueles que vão abrindo devagarinho e falo apenas de dores no cortex. De resto, finjo.
Só preciso fazer votos para que não me venha. não me sobrevenha.
Preciso torcer para que não me aflija a vertigem - essa nem foi diagnosticada. uma lástima.

é maior que eu e quando me acontece, vem a autocomiseração. a arte da autocomiseração.


> a autocomiseração:

mais fácil do que possa parecer, basta ser franco.
não franco como sua mãe seria.
franco.
comigo funciona bem
em cada pedaço de carne que sustenta meus ossinhos pequenos posso ver um pedaço de vida em que cuspi fazendo a escolha errada, como Judas.
Elas me pareciam tão certas...
e sendo franca, pareciam porque sou cega.

agora é aguardar o proximo surto e a próxima consulta.

neuropsiquiatra. aguarde.
Preciso torcer para que não me aflija a vertigem - essa nem foi diagnosticada. uma lástima.
caso venha a vertigem... aí ferrou. vix, ferrou.

3 comentários:

Samantha Abreu disse...

sabe esse "Vertigem"...?

sou eu, no teu blog!

"Meu Deus... como é que vim parar aqui?"

ahahahaha
adorei.

Rangel Correia disse...

Cara amiga,

Só hoje li o teu comentário (no meu blog do Londrina EC), peço imensa desculpa.
Aqui fica o meu endereço de e-mail, e espero o teu contacto.
rangel_blog@hotmail.com

Apenas permite-me dizer-te que fiquei impressionado com a tua facilidade de expressão literária, adorei o teu blog.

Rangel Correia disse...

Olá anónima "aluna de jornalismo da UEl", peço imensa desculpa mas só agora tive o prazer de ler o teu comentário no meu blog do Londrina.
Deixa-me que te diga que fiquei bastante vaidoso :), por teres achado o meu blog, um"trabalho interessantíssimo" e ainda por cima vindo de alguém que tem o dom de se expressar como tu o fazes, os textos do teu blog são sublimes.
Aqui fica o meu e-mail, no caso de me quereres contactar futuramente...
rangel_blog@hotmail.com