20080220

história bem maravilhosamente permeada de sangue, conflitos e final absurdamente feliz - capítulo 2

Meter-se a lançar pretenso best-seller para fazer boa figura entre as anormalidades literárias é besteira. Quando o mentor intelectual da farsa ainda é calouro nas esquizofrenias autobiográficas é besteira suicida. Quer ver piorar? é só contar para os dois ou três leitores nas últimas linhas do prólogo que aquela propaganda do subtítulo é pegadinha do malandro. Enfim, agora que as coisas já estão às claras e já se sabe que a história de amor e aquela firula toda era atrativo para atrair leitor de saga, não sobra alternativa senão prosseguir. Seria a única opção não fosse nobreza daquela que concebeu o título sobre história de amor e bla, bla, bla. Prometo permear a infeliz desventura do rebento (eu) com a fantástica fábula surreal do romance entre quem deu o ponta-pé inicial nessa coisa toda (meus pais).

Numa retomada ignorante do primeiro capítulo, a temática era o período pré-alfabeto. No tempo em que ser dona-proprietária de cabelo desgrenhado, óculos com a cara da Mônica nas astes e unhas roídas fazia de mim alguém extremamente especial [apenas para adultos, obviamente] eu descobri premissas pra vida:

1. falar bastante faz você parecer autoconfiante se souber fingir bem;
2. falar bastante faz com que você realmente acredite que tem domínio da situação [incluindo idas à orientação na escola, esquiva de castigo, papos de velhotas e papos de igreja];
3. falar bastante faz você parecer mais inteligente se conseguir concentrar todo o palavrório em cinco minutos [mesmo que seja um discurso de meia hora]. é só articular bem as palavras;
4. falar bastante também pode te fazer parecer bem idiota;
5. falar bastante te obriga a permanecer depois das aulas de castigo atrás da porta;

1989 acolheu minhas primeiras punições por querer parecer esperta.

Imagino que tenha sido num momento desses de ternura entre pais e filhos - desses em que a gente perde um pouco o raciocínio lógico e acha que coisas como levar criança pra jantar de adulto num ambiente sem criança funcionam - foi que os meus optaram por não me deixar vendo televisão com alguém enquanto jantavam na casa de velhos amigos. Eu fui junto.

uma das vantagens de crescer num lar cristão é o desenvolvimento de habilidades cristiânicas como o amor. Foi o amor que me moveu a pensar em fazer valer aquela oportunidade de mostrar para a minha mãe e seu cabelo de Sebastião da época que eu poderia freqüentar as reuniões de adultos sem problemas. Nas roupas eu não pude influenciar muito e fui vestida de bolo mesmo, mas o que importa é o conteúdo, rapaziada. Levei um livro de anedotas do Ziraldo e minhas melhores frases de efeito para entrar no contexto quando fosse necessário.

Era tanta confiança no pequeno prodígio aqui que eu nem me lembro de ter ouvido recomendações como 'não fale de boca cheia', 'não é permitido comentar as idas ao banheiro', 'peido, pum, arroto, virar os olhos. banidos'.

Não foi necessário. Nessa noite eu me comportaria como uma daquelas crianças encantadoras moldadas e aperfeiçoadas por gente do naipe de Mary Poppins e Super Nanny.
Na época eu completava meus seis primeiros anos e na empreitada literária há poucos meses, me interessei pela jocosidade dos trocadilhos e piadícas infames que eu nem entendia, mas provocar riso é sempre uma boa entre os adultos, né?
Na mesa, pedi atenção da maneira mais polida, versátil e infantil. Gritando. Funcionou. Naquela de quem fala mais alto, quando a adultaiada começa a se exaltar e tudo acaba numa grande gargalhada eu quis entrar na disputa também e ganhei destaque.
Com aquela feição de expectativa trocando olhares entre si que representavam alguma coisa parecida com “olha só que gracinha!” foi que aquele pessoal acompanhou a minha piadinha envolvendo elementos ingênuos como sorvete, saia e poste.

Mais ou menos isso:
- e aí, o joãozinho mandoua menina subir no poste e ela perguntou: ‘mas o sorvete ainda não mudou de sabor’ e ele disse: ‘aaah era só pra ver a sua calciiinha’.

Desde então eu descobri que toda criança passa por uma espécie de trote familiar para entrar no universo adulto. O que os pais chamam de surra.

14 comentários:

Varda disse...

=O,desculpa 1º vez que venho aqui..essa história num aconteceu neH?
*lemos cada coisa doida,na net que tudo pode acontecer*
=D

=**

Fernanda disse...

nossa quanta informação

Fernanda disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Fernanda disse...

não é necessariamente inveja
mas é falta , falta de algo que eu não tive e não sei se terei.

è complexo demais

Marïana disse...

olá quase improvável veterana ;}

essa saga...vai,me conta que é 70% ficção né ;DD



;*

Varda disse...

Haa,apesar de não gostar dele..deve ser homenageado
o/

E nussa,velho..chefes do teu pai?
que saco,eih??
oO

=**

Anônimo disse...

É.Eu sei pequenina encantadora. rs

Tu tens orkut?
Podes me passar?

Até mais, semelhante adorável.

Fernanda disse...

Agora eu entendi!
é nesse sentido
mas as minhas oscilações de idéias(totalmente inconstantes)
é que dificulta esse entendimento.




sacou? é usada em 9 a cada 10 frases que eu falo.

Fernanda disse...

coloquei nos meus favoritos!

:)

Unknown disse...

Desde então eu descobri que toda criança passa por uma espécie de trote familiar para entrar no universo adulto. O que os pais chamam de surra.


HUAHUAHUAHUAHUAHUAUHAUHA

Fernanda disse...

Nossa pequena LOndres (londrina)
sempre tive vontade de ir visitar
e passar na Uel(vestibular) também.

young vapire luke lestat disse...

Vc não vai acreditar tbm não li o que vc escreveu.....
E olha que eu leio tudo que é bobagem q escrevem por ai nos blogs da vida...

[]s L.sakssida

Akamine disse...

é. até para entrar na fase adulta passamos por trote. de criança para adulto a fase é complicada, é só lembrar das nossas adolescencias, adolescente, o que é isso afinal? criança ou adulto?
muito legal seu texto, te add lá nos favoritos. vale a pena!
bjs! teh mais :)

Garbo disse...

muito boa a frase:

"Levei um livro de anedotas do Ziraldo e minhas melhores frases de efeito para entrar no contexto quando fosse necessário."