20080424

História de rancor, emulações, prostituição e crimes - capítulo 6

Coisa feia é deixar quem lê num vácuo quando dá branco.

Deve haver jeito de entreter quem acompanha os capítulos ainda que não haja fiozinho desses de inspiração pra relatos, ou que me tome a maior inércia verbal. Num episódio em que há leitor pro conteúdo e a gente larga mão, quando volta é bom vir com desculpa boa. Dessas que não dá pra não menear a cabeça em concordância sem titubeio, tomado de dó. Tou sem nenhuma agora.
Aí é que dou saltinhos, tamanha a vangloria do tormentoso talento de afugentar leitor, logo, de inescusável, me absolvo e passo a ser novamente a imperatriz dos contos de amor, intriga, sangue, ódio, ciúme e aquela parafernália toda.

Ambientada num enredo anabatista em essência e livre da concupiscência torpe, não haveria jeito de tecer maldadezinhas sobre a educação com que fui aveludada. Nesse espírito, mancomunei-me com a melhor das intenções e resolvi apregoar a alegria.

Num gesto encantador de altruísmo duas jovenzinhas espalhavam cera vermelha sobre o chão da igreja pastoreada pelo pai em 1992. Morávamos numa espécie de apartamento sobre a Igreja e aprendi a dedicar as tardes na magnífica arte de apreciar o enceramento do chão.

Uma das moças tinha lá suas cinqüenta primaveras e a outra também. Gêmeas idênticas, né? Idênticas em arquétipo, ossada, emulações e inconveniências.
E para dar fim ao marasmo colossal instaurado no ambiente batismal, resolvi apregoar alegria brincando de esconder com as tias da limpeza. Acha improvável que tias de limpeza depois do meio século de vida? É só não contar. Eu escondo, elas enceram, eu grito, elas morrem.

Certo. Numa avaliação mais minuciosa, perceberemos que na real, eu não gritaria. A mãe ia notar, né? De fato, não dá pra chamar tanque batismal de esconderijo e das duas, só uma tá morta [ e não foi minha responsabilidade de acordo com a perícia ].

Todavia, acometida dos fluidos de bondade com que fui criada, achei por bem tornar o clima de trabalho das velhinhas mais agitado. Escondida no batistério, berrei qualquer coisa do naipe de ‘ÁIJESUSMARIAJOSÉLADRÃOENTRANDO’. Trambolho de encerar prum lado, gêmea 1 pro outro, gêmea 2 na chon.*

Pensei: ‘caraleas! Funciona. Tão regorgitando de felicidaaaade. Olha lá a carinha das bichinhas.’
Era puro blefe. Vê só! Tavam armando pra mim! Mais dia menos dia o pai chamou na chincha, sabe? Aí eu conto amanhã. Tá tarde.

hihih

3 comentários:

Anônimo disse...

Ui, ficou bão. Hem?!
Tá vendo que acordo cedo?!

Anônimo disse...

Existe vida inteligente na terra,ler seu blog dah vontade de viver,respirar,pular...
pq isso eh viver, podemos chorar e sorrir, e no final eh viver.

vc eh a melhor escritora do Brasil.

Bjs Lil

Garbo disse...

ah... Carmen.... depois de um belo tempo me deleito novamente com suqas palavras envolventes e peço o direito de usar seu parágrafo de abertura em meu texto, ja que nao tive o desembaraço e a capacidade literária para desenvolver tão complexo, inteligente e enrolante papo furado, semeando assim a culpa no coração de meus poucos leitores em minha volta ao blog...